A RELIGIÃO QUE DÁ VIDA E A RELIGIÃO QUE MATA

Religiosidade é quando um pentecostal vai ao culto, um católico participa da
hóstia, um budista pratica o desapego ou um muçulmano se imola para entrar no paraíso. Nestes exemplos não estou fazendo juízo de valor, apenas descrevendo a religiosidade, porque ela faz parte da cultura humana, dentro da capacidade de criatividade com a qual Deus dotou os seres humanos, e pode apontar tanto para Deus quanto para algum ídolo.

A religião é o ethos ou conjunto de hábitos que definem determinada religião ou grupo religioso. É a maneira como alguém expressa sua religião, no contexto institucional de regras e deveres e no contexto pessoal para sentir-se confortável em seguir determindas regras religiosas. Compõe-se dos mitos e dos ritos que expressam e identificam uma religião.

Muitas vezes a religiosidade pode ser uma obra de arte e demonstrar a beleza de uma cultura, com grande valor estético e espiritual, mas outras vezes ela pode ser alienadora, destrutiva e um símbolo de morte. Foi isso que Jesus quis dizer quando censurou os líderes religiosos de sua época chamando-os de sepulcros caiados e quando Paulo disse “a letra mata” (2Co 3.6). Lembremos também que foi uma religião e seus religiosos que mataram Jesus.

Portanto, a religiosidade tem tanto aspectos positivos quanto negativos, depende de como você a vive, pode se beneficiar dela ou estar tendo prejuízos. Para identificar a religiosidade sadia é fácil, pois a religiosidade adoecedora coloca os dogmas e doutrinas acima da vida e do amor; quando precisa tomar uma decisão é capaz de prejudicar alguém apenas para fazer cumprir o que a religião diz.

Um exemplo clássico é quando os religiosos trouxeram para Jesus uma mulher
apanhada em adultério. Aqueles homens estavam fazendo cumprir o que a religião dizia e Jesus deveria cumprir aquilo que esta religião e a Lei mandavam, mas Jesus seguia o preceito maior da Lei: o amor, e foi isso que salvou a mulher.

Jesus sempre operou na via do amor, nunca se deixou enredar pela morte que pode estar presente na religião. Neste episódio citado, Ele fez valer a religião do amor, da ternura e do perdão. Sua resposta aos religiosos lhes mostrou que a verdadeira religião traz vida e salva o pecador, não o apedreja. Jesus acabou de vez com as culpas e neuroses da mulher, bem como com a projeção da própria culpa dos religiosos sobre a mulher, como eles estavam fazendo.

Jesus se utiliza da psicologia da projeção para desmascarar os religiosos e lhes mostrar que são tão pecadores quanto a mulher apanhada em adultério. Demonstrando- lhes de forma clara que o verdadeiro sentido da religião verdadeira é trazer vida e libertação.

É a ética do evangelho presente no modelo de Cristo que salva nossa
religiosidade de ser adoecedora para nós e para os outros. A verdadeira religião age com misericórdia e compaixão, como Jesus agiu com esta mulher.

Convém ainda lembrar o que Tiago disse sobre a religião: “Para Deus, o Pai, a
religião pura e verdadeira é esta: ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e não se manchar com as coisas más deste mundo.” Tg 1.27. Portanto, a verdadeira religião tem a ver com ações de amor e compaixão e quase nada com dogmas, doutrinas e regras a serem seguidas. 

Você consegue identificar em quais atitudes de sua vida estão presentes
preceitos religiosos adoecedores e preceitos abençoadores? Quando consegue se lembrar alguma vez que seguiu um preceito religioso e causou feridas em alguém? Lembra alguma ocasião em que seguiu um preceito religiosos e conseguiu gerar vida?